quarta-feira, 6 de outubro de 2010

" Ah, desgraça inerente à raça"

Quando eu leio algum poema eu gosto de tirar minha própria conclusão, perceber o que o texto me transmite, e poder dialogar com o poeta sobre o assunto do poesia. Acho que as aulas de Literatura me estressam por não poder fazer isso, temos que ficar tentando achar a opinião do escritor, isto é realmente tediante.
Me fascinam os poemas críticos e ácidos, aqueles que nos fazem pensar sobre nós, sobre o mundo, sobre nossa breve existência ou nos dizem que não paramos muito para pensar...
Eis alguns que já li e achei incríveis:

Dois de Augusto dos Anjos:

“Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!”


Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


De Fernando Pessoa:

Falaram-me os Homens em Humanidade

Falaram-me os homens em humanidade,
Mas eu nunca vi homens nem vi humanidade.
Vi vários homens assombrosamente diferentes entre si.
Cada um separado do outro por um espaço sem homens.




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